Eu poderia tentar explicar cada momento ou nuance da série e me fazer de "ultra intelectual" pra mostrar que o "confuso" programa é mais simples do que parece... eu poderia, mas não é o caso. E não, não é tão simples, ao mesmo tempo que não é tão complicado se você esperar um pouquinho para as coisas irem se encaixando. Sense8 é no mínimo ousado por sua complexidade, suas ideias engenhosas e por sua orquestração cuidadosamente conduzida por uma batuta como numa orquestra onde todos os instrumentos musicais têm a sua vez e sua importância dentro da apresentação. Aqui temos oitos desconhecidos em lugares distintos- inclusive outros países- que aos poucos começam a sofrer o que parece ser alucinação em diversos níveis. Mas o que está por trás de cada cara nova que aparece na sua frente? Quando comecei a assistir eu entendi uma coisa... mas na verdade é outra e com o passar do seriado a gente vai percebendo que essas nuances que pareciam tão turvam, começar a ficar menos onduladas. O importante é você saber que Sense8 não é um seriado convencional de respostas fáceis, mas elas estão todas lá se você prestar atenção. O cuidado que J. Michael Straczynski, Lana e Andy Wachowski tiveram na hora de traçar cada passo, cada fala, cada ação é refletido principalmente por conta da edição- uma edição que faz toda a diferença! O seriado foi filmado em sete países diferentes com dois ou mais participantes dos "sensitivos" ao mesmo tempo e você vai entender a complexidade disso quando estiver assistindo o seriado.
Aqui há espaço pra todos e todos fazem parte do mesmo espaço. Os autores tiveram o cuidado e o esmero de deixar claro que não há espaço apenas para uma coisa: a intolerância do que quer se seja. Apesar de toda a trama que fica entre a ficção científica, drama, ação e misticismo em baixo grau, os personagens são seres falhos, cheios de medos e contradições ou efeitos morais e isso é aplicado de forma às vezes um pouco exacerbada, no entanto, sem sair do foco principal e de uma maneira que faça sentido de alguma forma. No final você verá que os caras não deixaram brechas no enrendo, e tudo acaba se encaixando perfeitamente. São doze episódios que mais parece um filme longo cortado em doze pedaços. Somando isso ao um enredo que tinha tudo para ser complicado, o seriado é uma vitória da boa produção e condução do mesmo. A maioria dos episódios são dirigidos pelos próprios Wachowski e todos são escritos por eles e J. Michael Straczynski (este último é roteirista de quadrinhos e nota-se muitas referências desse universo por conta disso).
O seriado dividiu um pouco a opinião da crítica e do público em geral. Admito que num é um seriado fácil por conta de vários fatores. As cenas de violência são cruas, as cenas de sexo são quase explícitas, o consumo de drogas é largado e tudo é filmado bem de perto. Mas se vale de contrapartida, o seriado fala da natureza humana de forma apaixonada, trazendo questões sociais em diversas escalas, formando cada pedacinho com esmero e mostrando um amor como pouco se vê nesse tipo de produção- quer seja no cinema ou na TV. Os diálogos são bem escritos e bem pensados, Não existe pieguice gratuita e sim arroubos sinceros. Tudo isso somado a um vagalhão de ações, situações e pensamentos. É como se fosse uma mistura de 12 Macacos com Cloud Atlas e misturado com conceitos físicos quânticos. O seriado se destaca logo pela longa abertura que mostra uma enxurrada de imagens aparentemente aleatórias de passagens comuns pelo mundo que vão de pessoas se divertindo até ações da natureza. Do começo ao fim, uma gangorra de emoções e ações. Várias culturas, vários idiomas e várias formas de se pensar. Tudo se encaixa e tudo está ali para ser o que tiver de ser: uma conectividade natural. E cara...de boas, mas o dom dos sensitivos quando aflorado é espetacular! Uma ideia que não sei se existe por aí, mas que se não... foi muito, mas muito bem sacada. Uma segunda temporada já foi encomendada e pelo que vi ali, isso pode ser só a ponta do iceberg.
NOTA: 5,0 (de 5,0)
Sense8 (2015)
Desenvolvido pela Netflix
Elenco: Aml Ameen, Sun Bak, Jamie Clayton, Tina Desai, Tuppence Middleton, Max Riemelt, Miguel Ángel Silvestre, Brian J. Smith, Naveen Andrews
Episódios: 12 (com média de 50min cada)
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